domingo, 1 de junho de 2008


PREÂMBULO HISTÓRICO:
PEARL JAM - NIRVANA - PANORAMA NACIONAL DO GRUNGE


Estamos nos meados dos anos 80, o Glam Rock é rei, o aparato e a teatralização musical suplantam a própria musica. As bandas em palco são um choque visual para a audiência e, por razões que ninguém espera conseguir compreender, plumas e fatiotas de cariz duvidoso fazem a indumentária dos artistas.
A ruptura surge em Seattle, cidadezinha bem a norte nos E.U.A., isolada musicalmente do resto do país. Aqui misturam-se influências Punk-rock com sonoridades mais pesadas como Heavy-metal e o Rock mais clássico dos anos 60 e 70.
Este híbrido apresentar-se-ia ao mundo mais tarde, em inícios dos 90, como Grunge.
Esqueçam a parafernalia de adereços, esqueçam os cabelos tristemente estilizados, esqueçam as actuações de palco, esqueçam as músicas bonitinhas sobre carros, dinheiro e mamas. No Grunge nada é ensaiado, aquilo que vemos é aquilo que temos, o reflexo de uma juventude apática e a sua fraca esperança no futuro. Tudo isto posto cá fora sob a forma de guitarras fortemente distorcidas, vozes cavernosas e rasgadas.
Deste movimento surgem duas das maiores bandas que a década de 90 testemunhou: Pearl Jam e Nirvana.

Com o desmembramento da mais proeminente banda Grunge , Mother Love Bone, após morte do vocalista Andrew Wood, Jeff Amment , Stone Gossard e o recentemente adicionado, Mike McCready começaram a tocar juntos e a compor novo material. Em busca de um vocalista e de um baterista enviam uma demo com 5 musicas a Jack Irons , baterista dos Red Hot Chili Peppers, que , recusando o convite, envia a demo a um amigo ,de seu nome Eddie Vedder. Reza a lenda que antes de ir surfar Eddie tinha estado a ouvir a demo e que num momento de inspiração as letras das músicas vieram ter com ele, uma das músicas chamar-se-ia Alive. O futuro front-man envia a demo de volta com a sua voz adicionada e em Seattle todos concordam em pagar a viagem de Eddie de San Diego até eles. Nascem os Pearl Jam.

Em Aberdeen, unidos pelo gosto pelo punk-rock Krist Novoselic e Kurt Cobain, amigos desde 1985, decidem formar uma banda. Nos primeiros anos em que tocaram não conseguiram manter um baterista estável sendo que finalmente em 1989 o primeiro álbum, Bleach, é gravado com Chad Channing à frente do kit da bateria. No entanto durante a gravação do sucessor de Bleach as habilidades de Chad Channing começaram a desapontar os membros da banda e pouco tempo depois Channing deixa os Nirvana.
Em boa hora, diga-se, não fosse o seu sucessor um dos maiores bateristas de todos os tempos. Após o fim abrupto da sua banda, Scream, Dave Grohl foi literalmente deixado ao abandono sem dinheiro e meios para voltar para casa. Através de um amigo comum entra em contacto com Kurt Cobain, que anteriormente já o tinha ouvido tocar e admitiu ser de um baterista como ele que a banda precisava. E nascem assim os Nirvana tal como o mundo os conheceu.

Nevermind, o ground-zero da explosão grunge encabeçado pelo single Smells like teen Spirit dá a conhecer o fenómeno de Seattle. Não sendo a banda pioneira do género Nirvana torna-se a sua maior referência. Nunca procurando sucesso mainstream é o mainstream que acaba por ir ter com os Nirvana e consequentemente com outras bandas grunge Soundgarden, Alice in Chains, Screaming Trees...
Meses antes tinha sido lançado o álbum Ten dos Pearl Jam, apesar de não vender rapidamente o álbum recebe atenção após o lançamento de Nevermind. Aqui surge a primeira acusação a Pearl Jam: de que se tinham aproveitado do hype grunge para atingir sucesso comercial.
Nirvana é irrefutavelmente a banda do momento, é evidente a ligação da banda com as massas mais jovens e sem que o próprio o quisesse Kurt Cobain torna-se a cara da Generation X. Ritmos fáceis de assimilar, letras que iam do mais ridículo ao complexo e indecifrável, a sua postura face ao mundo elevaram os Nirvana acima de todas as outras bandas.
Apenas 3 álbuns de estúdio compõem a discografia de Nirvana. De Bleach, o primeiro e menos vendido, retiramos bons momentos como Blew, About a Girl, School, Negative creep e a cover dos Shocking Blue, Love Buzz.
Quanto a Nevermind: Como falar desta álbum sem repetir tudo o que já foi dito? Como falar sobre ele e não ficar aquém? Difícil, difícil… A verdade é que se este não é o melhor álbum dos anos 90 é no mínimo um forte candidato a constar num top10 de qualquer um. Afinal de contas não é todos os dias que um álbum vende mais de 26 milhões de cópias por todo o mundo.
O ultimo álbum: In Útero. Queriam os Nirvana que vos trouxeram Nevermind? Queriam a banda que compôs Smells like teen spirit? Queriam a sonoridade que era tiro certo no mercado? Bem paciência, In Útero não é nada disso. In Útero traz-nos um som muito mais “sujo” e apesar de ser um álbum mais difícil de digerir as letras desempenham um papel mais importante do que em Nevermind. In Útero acaba por ser uma clara provocação aos que esperavam por uma continuação dos álbuns anteriores.
Mais álbuns não foram feitos por razões demasiado obvias, mas no seu tempo de vida Nirvana deixou um legado que para sempre os deixará na historia como uma das maiores bandas de sempre e para os cépticos a sua genialidade confirma-se no seu famoso MTV Unplugged. Cobain não eleva a voz, Krist não pula desvairadamente, Dave não agride violentamente a bateria, não é tocado nenhum dos grandes hit’s (excepção para Come as you are) e ainda assim os Nirvana convencem o publico inteiro felizmente a historia encarregou-se de apelidar este MTV unplugged como o melhor de todos os tempos.


Não tendo o sucesso inicial dos Nirvana os Pearl Jam conseguem acabar por vender mais que a outra banda de Seattle. Verdadeiramente apenas podemos considerar Pearl Jam Grunge até Vs. sendo que o álbum que posteriormente mais se aproximou da sonoridade dos primeiros é o homónimo de 2006, Pearl Jam ( sim, o do abacate).
Ao primeiro álbum os Pearl Jam são apanhados na hype sobre o som de Seattle e alcançam um sucesso inesperado. Ten não é por isso menos merecedor de ser considerado dos melhores álbuns da década. É facilmente comprovavel e simples de fazer aí em casa. Faça o seguinte: arranje uma copia e encontre no álbum uma má música. Nada, correcto? Não volte então o leitor a duvidar da palavra deste que aqui escreve. Não há uma única faixa que não seja digna de single (até as menos conhecidas como Garden, Deep e Release). Ten é jovem e carregado de sentimento e por entre riffs geniais de McCready e de Gossard desvenda-se a voz genial de Eddie Vedder e a sua qualidade na escrita. Façamos fastforward e passemos à grande musica do álbum - o autor vai agora correr o risco de tornar este texto ainda mais parcial mas a situação justifica-o:
Alive é o hino de qualquer um que já tenha ido a um concerto de Pearl Jam. A determinada altura o autor encontrou-se a telefonar para a Porto editora para que na sua definição da palavra “linda” incluíssem uma nota que remetesse para esta musica. Seja como for é impossível ficar indiferente a este colosso musical. Esta música semi-biografica é o ex libris da banda. Por um lado o riff inicial memorável de Gossard e o espaço de loucura que é dado a McCready e por outro a qualidade na escrita de Eddie Vedder que nos descreve em 5 minutos e qualquer coisa como foi crescer para um rapazinho que anos mais tarde admite ser ele.
Ocuparia demasiado tempo descriminar todas as músicas do álbum mas faço uma ressalva para Black e Jeremy. Black é harmoniosa e triste, uma descrição de um coração partido, revoltado na voz de Vedder e Jeremy conta a historia de um rapazinho que se suicidou em frente da sua turma durante uma aula, a musica é uma interpretação do que seria a vida do rapazinho e uma dissertação sobre as razoes que levaram o rapazinho a suicidar-se.
Dois anos mais tarde e após uma exaustiva tourné surge Vs. Confesso já estar chateado de dizer bem mas não me é dado espaço de manobra para poder sequer pensar em apontar o dedo a esta banda. Vs. passa folgadamente no teste que é o segundo disco. É verdade que perde algum do fulgor inicial de Ten mas nada que comprometa. Vs. é vincadamente mais “apunkalhado” que o seu predecessor. Músicas mais acelaradas e um sentimento de inconformidade e raiva pairam de forma mais acentuada no álbum. Curiosamente surgem aqui três excepções por completo à regra: Daughter, Elderly Women... e Indifference. As duas primeiras continuam presença assídua nos concertos ao vivo. E como prova do teor do álbum veja-se Animal, são cerca de quatro versos diferentes e ainda assim uma música fenomenal.
Daqui em diante a banda explora novas sonoridades nunca alcançando o mesmo sucesso comercial dos primeiros álbuns. Culpas? O descontentamento de alguns fãs com o novo som, a sua recusa em fazer videoclips, a guerra com a ticketmaster e a queda do Grunge após a morte de Kurt Cobain.


Resumindo e baralhando Nirvana e Pearl Jam foram, e não me canso de dizer, duas das maiores bandas da década passada. Ambas surgem no mesmo movimento, ambas geniais no entanto díspares como o dia e a noite. Em comum tinham apenas um grande front-man de resto em nada se pareciam. Kurt Cobain chega mesmo a criticar os Pearl Jam dizendo que não são verdadeiramente Alternativos por seguirem cânones antigos, mas precisamente no que diz respeito aos solos de guitarra. De facto é preciso dar a mão à palmatória são os Nirvana a verdadeira banda inovadora mas é irrefutável que tecnicamente os Pearl Jam eram os senhores. Existiu uma grande rivalidade entre as bandas, mais pelos seus fãs. Ou se era fã de uma ou de outra, parecia impossível compatibilizar as duas. Se uma rádio passava Smells like teen spirit era certo e sabido que noutra a musica que rodava era Alive.


Pergunta-se: qual das duas a melhor? O leitor que pense duas vezes se acha que eu lhe vou responder. Simplesmente não consigo decidir. É como perguntar o que preferimos: o pai ou a mãe, Coca-cola ou Pepsi, M&M’s ou Pintarolas. Não se consegue decidir. Podemos no entanto admirar as duas bandas como tendo sido, ambas, bandas integras. Nunca se venderam e mantiveram sempre a mesma postura para com o mundo e a sociedade. Ao invés do que ocorre tipicamente foi o mainstream que foi obrigado a vergar-se a um determinado tipo de bandas. Oiçam vocês o que ouvirem é algo que se tem que admirar.

Jorge Almeida

Em analogia com a situação portuguesa, existem poucas bandas de grunge em Portugal, talvez por ser, actualmente, um estilo algo morto. Temos os Skewer, banda do Barreiro, os Inflow de Coimbra, os Parkinson do Porto, os Urbanus de Barcelos e os Dollar Llama de Lisboa. Peço desculpa às outras bandas de grunge que não referi, deste modo pedia-lhes também que nos contactassem, pois o grunge é um estilo musical que não deve de todo morrer, e porque não Portugal para o fazer renascer?

João Fernandes

Um comentário:

El Che disse...

Quanto a mim, parte-se aqui de um pressuposto errado, quando se tenta localizar bandas de Grunge em Portugal. Dizem que há poucas. Eu digo que não há nenhuma, nem poderia haver, pelo simples facto de o Grunge não ser um estilo musical. O Grunge foi um movimento, um boom criativo com epicentro em Seatlle que surgiu no final da década de 80 e que teve o seu apogeu já na década de 90, tendo tido motivações e características muito particulares, fruto daquela época, e que não se repetem, quanto muito tentam simular-se, em vão.
Dizer que o grunge é um estilo é situar no mesmo espaço musical bandas como, e só para referir as mais conhecidas, Nirvana, Alice In Chains ou Pearl Jam, que possuem sonoridades bstante diferentes.

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